Ressentimentimento, Nietchize e Cowabunga
Tartarugas Ninja: Caos mutante
As tartarugas mais amadas da Nickelodeon estão de volta para as telonas. Produzido por Seth Rogan, As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é um sopro de alívio em meio uma fadiga incansável de filmes de super-herói. Essa não foi a primeira adaptação dos quatro irmãos para as telonas, mas com certeza é a melhor delas até agora. Caos Mutante segue quatro irmãos tartarugas que sofreram uma mutação após entrarem em contato com uma gosma (não meleca) no esgoto de Nova York. Todos já sabemos a história de Raphael, Leonardo, Michelangelo e Donatello, que receberam seus nomes em homenagem aos famosos pintores da Renascença. Mas essa não é muito bem uma história de origem e sim uma história de aceitação, de ressentimento e do medo do desconhecido, até porque ser uma tartaruga bípede em meio a humanos não é algo muito comum.
Tive um leve choque e uma certa quebra de expectativa em relação ao filme. No quesito mais narrativo mesmo, eu como público estava esperando um filme mais na pegada de As Tartarugas ninja da nickelodeon a série de 2012, mas me surpreendi positivamente quando percebi que o filme tinha vários pontos muito importantes e relevante, e uma análise muito significante da sociedade atual.
A nova aventura segue as versões adolescentes de Leonardo (Nicolas Cantu), Raphael (Brady Noon), Michelangelo (Shamon Brown Jr.) e Donatello (Micah Abbey), quatro tartarugas que, após serem expostas a uma substância radioativa, acabam se transformando em animais antropomórficos - com características e emoções humanas -, criados pelo Mestre Splinter (Jackei Chan), um rato que foi vítima da mesma mutação e, assim, cuidou das tartarugas não apenas como pai, mas como mentor e professor de artes marciais. Com o treinamento, o grupo assume o posto de vigias e protetores da cidade de Nova York, devendo lutar contra as mais variadas ameaças do Clã do Pé, comandado pelo vilão e arqui-inimigo dos heróis, Shredder.
Adolescentes serão sempre adolescentes
Os irmãos funcionam muito bem por conta de suas personalidades e gostos diferentes. Apesar de Leonardo sempre tomar a frente como um "líder", é exatamente na dinâmica entre os irmãos, adolescentes, que o grupo de heróis funciona. Tanto quando falamos das ideias medos receios, percebemos que eles não são só tartarugas ninja, mas acima de tudo são adolescentes ( na tradução perde-se muito, no original é “Teenage mutant ninja turtle”, Tartarugas mutantes ninja, traduzido ). Possuem ideias ruins e sacadas que uma adolecente teria, sonhos e desejos de adolescentes.
Os quatro irmãos sonham em ser normais: ir para a escola, falar de animes, postar vídeos no TikTok, se apaixonar... mas a sociedade não os quer. O filme fala fortemente sobre a rejeição social acerca dos mutantes, inclusive citando diversas vezes o fato de que eles seriam mortos por pessoas ou estudados pelo governo, em geral um medo experienciado por eles e por seu pai, o querido Mestre Splinter.
Uma adição significativa que adiciona um peso muito real a trama e a relação das tartarugas, que apesar de ter o "mestre" em seu nome, serve muito mais como um pai neste filme. Claro, Splinter ainda ensina o grupo de tartarugas a lutar e usar cada uma de suas armas. No entanto, ao invés da clássica origem do personagem como se vê nos filmes de 1987 , nos mais recentes de 2014 ou na série animada pela Nickelodeon de 2012, Splinter aprende a lutar mas como uma forma de proteção de uma sociedade que o repudiou e tentou agredi-lo juntamente com os seus filhos, isso nos leva a uma primeira pincelada no tema medo do desconhecido e ressentimento, já que o próprio permite que seus filhos só saiam de sua casa um local protegido para coletar suprimentos.
É só quando Leonardo tem uma queda absurda por April que a história dos irmãos começa a tomar forma. A jovem, como boa repórter (do jornal da escola), está pesquisando sobre os misteriosos desaparecimentos de dispositivos poderosos na cidade. É nessa justificativa que os irmãos encontram um modo de fazer com que a sociedade os aceite: salvar a cidade para que todos os amem.
Vilões, Heróis ou Ressentidos
No fundo, o filme tem dois antagonistas, mas um deles se sobressai e é o SuperMosca. Que mesmo que seja o clímax do filme e tendo as cenas mais recheadas de ação. A “luta” de conceito é extremamente mais interessante e onde posso abordar o conceito de ressentimento.
A palavra se origina do francês "ressentir", prefixo re, intensivo e sentir "sentir"; do latim "sentire". A palavra em inglês se tornou sinônimo de raiva e guarda rancor.
O ressentimento refere-se a um sentimento de amargura, raiva, mágoa ou rancor persistente em relação a uma injustiça percebida, uma ofensa passada ou uma situação adversa. É um sentimento que persiste ao longo do tempo e pode ser alimentado por lembranças negativas ou pela sensação de que alguém foi prejudicado de alguma forma.
A motivação do SuperMosca é a mesma de que para Splinter, em um paralelo pode-se dizer que ambos passaram pela mesma situação em graus diferentes, Enquanto o Supermosca tem atitudes agressivas e quer a destruição, Splinter foca em conservação e proteção para ele e seus filhos, podemos fazer um paralelo que enquanto o SuperMosca é ressentido em um sentido agressivo o Splinter tende a ser recluso.
O conceito de ressentimento também é explorado em profundidade na filosofia, especialmente por filósofos como Friedrich Nietzsche. Nietzsche examinou o ressentimento como uma emoção complexa que pode ter consequências profundas na psicologia e na moralidade das pessoas.
Nietzsche é conhecido como um filósofo popular de certo modo, mas muitas vezes seu pensamento sobre o ressentimento é negligenciado. Para Nietzsche, o ressentimento nasce da impotência e contamina o indivíduo.
Para entender melhor, precisamos analisar a famosa oposição “moral de senhores versus moral de servo”. Por trás destas morais encontra-se a Vontade de Potência.
Nietzsche analisa do ressentimento através de uma fisiopsicologia: o nobre dispõe de uma plasticidade que o faz ativo no processo, ele é capaz de agir de múltiplas maneiras e afirmar-se sempre com o máximo de potência e espontaneidade; não há hesitação em pôr-se à prova! Já o servo, acovardado pelos estímulos que vêm de fora, cegado pelo medo, não encontra saídas, fica paralisado, consegue apenas esboçar reações mecânicas, reflexos prosaicos, toscos e infrutíferos; não se sente digno de lutar.
Seguindo esses argumentos após uma experiência traumática para ambos os personagens, o SuperMosca seria o “servo” que ao se ver impotente no passado, tentaria fazer com os humanos o que fizera com ele, uma busca por vingança pessoal, que junta-se com um ideia de revolução e libertação dos mutantes .
Já o Splinter que diante de sua impotência resolvendo se esconder entende em um certo momento que o ressentimento que sentia perante os humanos, mesmo que fundamentado em experiências pessoas e no medo e superproteção de seus filhos, é de certa forma injusto já que há humanos bons assim como há mutantes maus.
Em quesitos mais cinematográficos o ressentimento tem forte apelo dramático. Funciona bastante como elemento polarizador da ação, no cinema ou no teatro, e também para promover a identificação do espectador com alguns personagens, vistos como vitimados pelas circunstâncias ou, principalmente, pelos outros.
O Veredicto.
A animação é a temática do filme são incríveis a escolha artística traço mais rabiscado e torto ficou lindo e combinou bem com o ar urbano a trilha-sonoras contaria com rap e hip-hop, mas com quatro tartarugas com personalidades diferentes, a trilha também conta com outros artistas que refletem cada irmão. Temos k-pop para Donatello, com Butter de BTS; Natasha Bedingfield para os momentos mais divertidos; BlackStreek e De La Soul, A Tribe Called Quest e muitos outros. Foi legal, eu gostei. E se tiver o próximo com certeza vou ver.
As mudanças de termos da filosofia de Nietzsche foi alterada propositalmente, mas a essência permanece a mesma.
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