The alters : EU, EU MESMO E JAN

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Quem nunca se pegou pensando: "E se eu tivesse feito diferente?"
Talvez trocado de carreira, dito o que realmente sentia para alguém ou até tomado uma decisão corajosa que mudaria tudo. Todos nós carregamos pequenos e grandes arrependimentos — momentos em que imaginamos como a vida poderia ter sido se tivéssemos escolhido outro caminho.

Agora, imagine um jogo que transforma esses arrependimentos em algo real e jogável. Um jogo onde você pode, literalmente, criar versões alternativas de si mesmo, baseadas nas decisões que não tomou. Essa é a proposta ousada de The Alters, uma das maiores surpresas que tive este ano. Um jogo que mistura sobrevivência, gerenciamento e drama psicológico em uma experiência intensa e única.

Com essa premissa, fiquei completamente fissurado. Zerei o jogo na mesma semana em que comecei a jogar. A história é sensacional, e as mecânicas de gerenciamento, somadas à exploração, tornam a gameplay extremamente viciante. Mas vamos do início.

Publicado e desenvolvido pelo estúdio polonês 11 Bit Studios, o mesmo responsável por This War of Mine e Frostpunk 1 e 2, The Alters foi anunciado em junho de 2022, durante o PC Gaming Show, e lançado em 13 de junho de 2025 para PlayStation 5, Windows e Xbox Series X/S. O jogo também foi disponibilizado no Xbox Game Pass no dia do lançamento — plataforma onde eu o joguei.

O artista principal, Tomasz Kisilewicz, contou em entrevista que o jogo se inspirou em diversos thrillers psicológicos, descrevendo The Alters como um "jogo estranho". Embora a coleta de recursos seja descrita como a base da economia do jogo, o tempo é, mecanicamente, o recurso mais precioso. Há várias maneiras de resolver um problema, mas o jogador não tem tempo para realizar todas as tarefas, sendo obrigado a pensar estrategicamente e priorizar seus objetivos.

 

   Captura de tela The Alters

Em diversos momentos, me vi tendo que refazer dias inteiros de gameplay por conta de estratégias mal planejadas. Levei vários game overs — quatro ou cinco vezes — sendo traído pela tripulação ou morrendo com o nascer do sol. O tempo é crucial para tudo: desde encontrar os pontos ideais para mineração, garantir recursos para fabricar comida ou kits de reparo para a base, até mesmo progredir na história. Essa mecânica de tempo foi o que mais me chamou atenção, além, claro, da narrativa profunda.

Em termos de jogabilidade, a inspiração em Satisfactory é evidente. A ideia original era que os jogadores construíssem e gerenciassem uma base no espaço, criando cópias de si mesmos. A história, que foca em como escolhas e decisões na vida podem levar a resultados muito diferentes, foi desenvolvida para complementar essa mecânica. Segundo o estúdio, "cada Alter tem uma personalidade e história cuidadosamente preparadas, com as quais o jogador pode interagir durante o jogo".

Em The Alters, somos apresentados a Jan Dolski, um homem comum que carrega um passado doloroso: a morte precoce da mãe, os abusos do pai e o colapso de seu casamento com Lena, arruinado por sua insegurança e obsessão pelos próprios fracassos. Na tentativa de fugir de tudo isso — e talvez de si mesmo — Jan aceita integrar uma missão arriscada da AllyCorp rumo a um planeta distante, em busca do misterioso elemento Rapidium, capaz de manipular o tempo.

No entanto, a nave sofre um acidente devastador ao entrar na órbita do planeta, e Jan desperta como o único sobrevivente em um mundo alienígena hostil, marcado por anomalias gravitacionais imprevisíveis e um sol escaldante que ameaça destruir tudo a cada amanhecer. Sua única esperança de sobrevivência é uma base móvel e a ajuda de um computador quântico, que contém registros detalhados da tripulação — inclusive dele próprio.

A verdadeira virada acontece quando Jan descobre que o Rapidium, aliado à tecnologia da base, permite criar "Alters" — versões alternativas de si mesmo, moldadas por decisões diferentes em momentos cruciais da vida. O primeiro Alter criado é o Técnico, uma versão de Jan que, ao contrário do original, enfrentou o pai abusivo em vez de fugir para a faculdade, tornando-se mais assertivo, direto e eficiente.

 

  Captura de tela The Alters 

 A partir daí, Jan cria uma equipe de Alters especializados: o Cientista, o Minerador, o Botânico, o Doutor, entre outros. Cada um traz não apenas habilidades úteis, mas também cargas emocionais e conflitos próprios, refletindo as infinitas possibilidades que a vida de Jan poderia ter seguido.

Conforme a narrativa avança, o jogo mergulha em dilemas éticos profundos: os Alters são apenas ferramentas ou são seres conscientes, com memórias e identidade própria? A tensão cresce quando é revelado que os Alters estão morrendo por mutações causadas pelo processo de gestação acelerada — assim como uma ovelha clonada que serviu de experimento inicial.

Em meio a conversas fragmentadas com sua ex-esposa Lena — agora funcionária da AllyCorp — e pressões de figuras sombrias como Maxwell e Agatha, Jan se vê obrigado a tomar decisões que afetam não apenas sua própria sobrevivência, mas o destino dos Alters e o futuro do Rapidium, um recurso que pode transformar — ou condenar — a humanidade.

O carinho que os desenvolvedores tiveram com esse jogo é evidente. A história de vida de Jan é triste e profundamente humana — assim como a de todos os Alters. Todos parecem reais, e eu criei empatia por eles a ponto de querer salvá-los no final. Eles não são ferramentas, nem simples clones de Jan. São pessoas. Estão mais próximos de irmãos do que de cópias. E essa é a verdadeira beleza do jogo.

The Alters não é apenas um jogo de sobrevivência e gerenciamento — é uma meditação interativa sobre identidade, arrependimento e redenção. A mecânica inovadora de múltiplos "eus" não serve apenas como ferramenta de gameplay, mas como um espelho para o jogador refletir sobre suas próprias escolhas e sobre quem poderia ter sido.

Ao final da jornada, não importa apenas quem sobreviveu, mas quem Jan escolheu ser. E essa é a grande força de The Alters: nos lembrar que somos feitos de decisões, e que até mesmo as versões que abandonamos continuam a viver dentro de nós. No fim das contas, o que importa não é quem poderíamos ter sido — mas quem decidimos ser a partir de agora.

 

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