O Traumaturgo
A neve começa a cair, o frio e de congelar os ossos o povo
polonês está insatisfeito com o czar, você está na Rússia, em 1905.
Andando por um vilarejo abandonado você está procurando um suposto curandeiro
que pode te ajudar com uma certa questão relacionada a sua saúde, assim você está
que viaja pelo mundo em busca de uma cura para sua doença, uma dor incomum,
quase espiritual. Parece que a única pessoa que pode ajudá-lo é um
"milagreiro” que se interessa por suas habilidades e realizar uma hipnose
para você se reconectar com sigo mesmo. E no fim das contas do certo, porém, o
responsável te pede para o ajudar voltando para sua cidade natal Varsóvia, após
15 anos de exílio para ajudá-lo já que ele te ajudou, e ele não é nada mais
nada menos que Grigori Rasputin, o notório monge louco.
início de uma jornada sombria
Lançado em 4 de março de 2024, The Thaumaturge
é o novo RPG narrativo da Fool’s Theory, estúdio polonês em ascensão que
já trabalhou em títulos como Baldur’s Gate 3 e Divinity: Original Sin
2, em parceria com a Larian. Em 2017, eles assinaram também Seven: The
Days Long Gone. A distribuição ficou a cargo da 11 bit studios, a
mesma de This War of Mine e Frostpunk.
O jogo se passa em uma Varsóvia do início do século 20, anexada ao Império Russo, e coloca o jogador no papel de Wiktor Szulski, um taumaturgo herdeiro de uma linhagem marcada pelo oculto. A proposta é ousada: misturar drama histórico, investigação e dilemas sobrenaturais em um RPG isométrico com forte peso narrativo.
Mecânicas mágicas e dilemas éticos
A jogabilidade de The Thaumaturge combina elementos
clássicos de RPG com investigação sobrenatural e escolhas morais constantes. Os
combates, por exemplo, acontecem em turnos, lembrando a cadência estratégica de
um RPG de mesa. Neles, o jogador alterna entre ataques físicos, habilidades
mágicas e a invocação de Salutors, criaturas espectrais que desempenham papéis
distintos. Alguns são especialistas em causar dano direto, enquanto outros
manipulam mentes, distorcem emoções ou enfraquecem os inimigos de forma sutil.
A ordem das ações e o posicionamento são fundamentais, já que um movimento mal
calculado pode abrir espaço para ataques devastadores.
Fora das batalhas, o jogo assume um ritmo investigativo.
Wiktor utiliza sua ligação com os Salutors para perceber detalhes invisíveis no
cenário, revelando segredos escondidos ou emoções reprimidas de personagens.
Esse recurso transforma cada interação em algo mais profundo: ao entrar em
contato com as falhas e traumas de outras pessoas, o jogador precisa decidir se
vai usá-los para ajudar, manipular ou simplesmente explorar, sabendo que cada
escolha terá peso moral e narrativo.
A progressão do personagem se estrutura em quatro dimensões
metafóricas — Coração, Mente, Ação e Palavra — que funcionam tanto como
atributos de combate quanto como ferramentas sociais. Investir em Coração
amplia a intensidade das emoções e a empatia; em Mente, favorece raciocínios e
percepções mais aguçadas; em Ação, fortalece o corpo e a iniciativa física; já
em Palavra, amplia a capacidade de persuasão e influência nos diálogos. O
crescimento de Wiktor, portanto, não se limita a ficar mais forte, mas redefine
como ele se relaciona com o mundo e como os outros o enxergam.
Essas escolhas inevitavelmente moldam o rumo da narrativa.
Dialogar demais com os Salutors pode tornar Wiktor mais poderoso, mas também
ameaça corroer sua sanidade. Da mesma forma, optar por manipular os demônios
internos de outras pessoas em vez de ajudá-las gera consequências que
reverberam ao longo da história. The Thaumaturge não se limita a um RPG
de combate e progressão; é uma experiência onde cada decisão, dentro e fora da
batalha, carrega implicações emocionais e éticas, transformando a jornada de
Wiktor em algo tão sombrio quanto fascinante.
Escolhas dúbias
Em geral normalmente o jogo vai apresentar duas questões e
opções, entre ser uma pessoa arrogante e orgulhosa e ajudar o outro, mais com na
vida real ele não exemplifica quais as consequências, e uma decisão meio dúbia
pode estragar completamente seu final, como foi o meu caso.
Por eu entrepetra wiktor com sua marca de orgulho tomei
decisões controversas no ato dois que interferiram no ato três além de que traumaturge
é um dos poucos jogos que faz batalhas serem condizentes com sua lore, isso me
impressionou muito positivamente no final do jogo.
Toda a parte de escolhas é o que tira o The traumaturge de
um rpg genérico e o torna muito mais, histora
a ambientação e o desenvolvimento de aliados baseado em suas ecolhas morais é o
tempero que o jogo tem.
Se vc conseguir ignorar a falta de orçamento e algumas
travadinhas esse é um ótimo jogo talvez um dos melhores que eu já joguei.
Mas afinal, o que é taumaturgia?
O termo vem do grego thauma (maravilha) + ergon
(trabalho) e se refere à capacidade de realizar milagres ou feitos considerados
sobrenaturais. Na tradição ocidental, um taumaturgo é alguém capaz de
manipular forças invisíveis — seja um mago, um santo ou um “fazedor de
milagres”.
No século 16, o matemático e ocultista John Dee
popularizou o conceito ao descrevê-lo como uma “arte” que permitia criar
fenômenos maravilhosos. Para muitos, máquinas complexas movidas por engrenagens
e alavancas eram confundidas com magia — um exemplo de como ciência e ocultismo
se misturavam na visão da época.
É dessa tradição que The Thaumaturge se inspira,
reinterpretando o taumaturgo como um usuário de magia capaz de invocar
criaturas espectrais chamadas Salutors.
No universo do jogo, os Salutors habitam as fendas
entre o real e o sobrenatural. Eles se alimentam de falhas humanas — inveja,
obsessão, medo, arrogância — e apenas um taumaturgo é capaz de percebê-los e
controlá-los.
Essas entidades não são apenas armas mágicas. São reflexos
distorcidos da psique humana. Ao invocá-los, o jogador não só ganha poder, mas
também mergulha nas fragilidades e segredos mais obscuros das pessoas ao
redor.
Essa relação ambígua cria um dilema constante: até que ponto
manipular os outros através de seus demônios internos é justificável? E qual o
preço psicológico de se envolver demais com os Salutors?
Vozes do estúdio
Para Karolina Kuzia-Rokosz, diretora de design da
Fool’s Theory:
“The Thaumaturge gira em torno da ideia de demônios,
tanto físicos quanto metafóricos. Afinal, todo mundo carrega os seus. O jogo
mostra que nem tudo é o que parece à primeira vista.”
Já Marek Ziemak, diretor de produção da 11 bit
studios, ressalta a importância cultural do projeto:
“Com cerca de 60 pessoas e um orçamento robusto, The
Thaumaturge é nosso maior lançamento desde o primeiro Frostpunk. É
também especial por se passar em Varsóvia, cidade que muitos de nós chamamos de
lar, e que ainda não havia sido representada de forma adequada em um jogo.”
Um RPG diferente
De modo geral, The Thaumaturge costuma colocar o
jogador diante de dilemas claros: ser arrogante e orgulhoso ou estender a mão
para ajudar o próximo. Mas, assim como na realidade, o jogo não revela de
imediato quais serão as consequências dessas escolhas. Uma decisão
aparentemente ambígua pode ter efeitos devastadores e até comprometer
completamente o final da história — como aconteceu comigo.
Ao interpretar Wiktor com um viés mais orgulhoso, acabei
tomando decisões controversas no segundo ato que repercutiram diretamente no
terceiro. Essa conexão entre escolhas e narrativa me surpreendeu, mas o que
realmente me impressionou foi como as batalhas refletem a própria lore
do jogo, mantendo consistência entre mecânica e enredo — algo raro em RPGs.
É justamente o sistema de escolhas que impede The
Thaumaturge de ser apenas mais um RPG genérico. A ambientação histórica, a
construção dos aliados e o desenvolvimento moral de cada relação funcionam como
temperos que enriquecem a experiência. E, apesar de algumas limitações técnicas
— como travadinhas ocasionais e sinais de um orçamento modesto —, o resultado
final é extremamente positivo. Para mim, The Thaumaturge está entre os
melhores jogos narrativos recentes, capaz de marcar não só pela sua história,
mas pela forma como faz o jogador refletir sobre cada decisão.
Mais do que um RPG histórico ou sobrenatural, The
Thaumaturge é uma reflexão sobre como nossas imperfeições nos definem.
Entre conspirações políticas, investigações sombrias e batalhas místicas, a
verdadeira luta é contra os próprios demônios — os internos e os alheios.
Mais do que um RPG, The Thaumaturge é uma meditação
interativa. Ele convida o jogador a explorar não apenas a Varsóvia ocupada do
início do século XX, mas também os abismos da alma humana. Cada rua, cada
sombra e cada Salutor evocam não só a dureza da história russa, mas também o
peso de sua mitologia, impregnada de mistério e dor.
A experiência soa como um encontro improvável entre Lovecraft
e Dostoiévski: de um lado, o horror cósmico que sussurra sobre forças
invisíveis; do outro, o mergulho nas contradições mais íntimas do ser humano. O
resultado é uma obra que não se limita a ser jogada como entretenimento, mas
que deve ser vivida como reflexão — um texto escrito em escolhas, onde cada
decisão se transforma em narrativa.




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